Na véspera da decisão do Campeonato Brasileiro de Futebol Feminino A-2, Cristiane Albuquerque mal conseguiu dormir. As duas filhas dela entraram em campo com o Minas Icesp, no meio da tarde desta quinta-feira (12/7), para decidir o título contra as rivais baianas do Vitória. Assim como todos os jogos do time brasiliense, a mãezona estava nas arquibancadas do Estádio Abadião, em Ceilândia, nervosa pelo empate sem gols no tempo normal. Mas as donas da casa se sagraram campeãs após protagonismo das filhas de Cristiane nas cobranças de pênaltis que acabou em 4 x 3. O primeiro jogo da final, em Salvador, havia terminado em 2 x 2.
Cristiane preferiu não assistir às cobranças. Assim que o árbitro apontou o fim da partida, ela e as demais mães das atletas foram para o vestiário fazer uma corrente de oração com a goleira Krishna, a filha mais velha de Cristiane. Mas quem roubou a cena primeiro foi a caçula, artilheira do Minas com oito gols e campeã sul-americana com a Seleção Brasileira Sub-20. Camisa 10 do Minas, a meia Victória perdeu a quarta cobrança de pênalti quando o placar estava empatado em 3 x 3 — o chute rasteiro no meio do gol foi defendido. Em seguida, para alívio da jogadora de 20 anos, Raquel chutou para fora pelo Vitória.
Eliúde voltou a colocar o Minas na frente. Restava a cobrança de Taiana pela equipe baiana quando uma das jogadoras do time brasiliense correu do meio de campo para dar um abraço na goleira. O gesto de apoio deu certo: Krishna defendeu a batida e revelou o segredo da proeza. Com o abraço que recebeu antes do último pênaltis, a colega levou o recado da irmã, que havia desperdiçado uma cobrança. “A última atleta delas que bateu joga com a Victória na Seleção Sub-20, então, ela me cantou o pênâlti”, disse. “Eu confiei. Quando ela me falou que a número 3 bateria no canto direito, eu só me joguei”, completou.
Enquanto As Minas, apelido dado às jogadoras do time candango, pulavam sobre a goleira, e a torcida explodia nas arquibancadas, a mãe Cristiane saia caminhando com os olhos cheios de lágrimas, sem conseguir falar direito. Ela só deixou o vestiário depois de ouvir a festa no campo. As palavras, então, ficaram por conta das filhas. “A sensação é maravilhosa. Ser coroada desse jeito, depois da trajetória que fizemos, não tem explicação”, comemorou Krishna.
Aliviada, Victória assumiu que sabia que poderia errar a cobrança, já que Tainara, adversária e colega de Seleção, conhecia o estilo dela de bater, assim como a brasiliense tinha informação privilegiada sobra a jogadora do Vitória. Dito e feito. As duas promessas do futebol brasileiro erraram e a diferença foi contar com a irmandade da equipe candanga. “Minha irmã me salvou e estamos com o título”, festejou.
““Minha irmã me salvou e estamos com o título”, festejou..”
Cristiane com as filhas Victória (esq) e Krishna (dir) | Foto: Arthur Menescal/Esp. CB/D.A
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